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Método básico de assovio gomero-tupi | Turista transcendental, Rosângela Rennó
Entrevista com a artista
Videobrasil Open Air
Legendas

Método básico de assovio gomero-tupi | série Turista transcendental

Rosângela Rennó, 2016
Vídeo, 48’22’’

Assovio gomero: Oliver Escuela Hernandez
Captura de som e assistência geral: Auguste Trichet
Edição de vídeo e áudio: Isabel Escobar
Revisão e locução em Tupi antigo: Eduardo de Almeida Navarro

Leia o texto que integra a obra

Entrevista Rosângela Rennó

2025
Vídeo
8’05″

Videobrasil Open Air

2025
Vídeo
1’15″

Método básico de assovio gomero-tupi*
Série Turista transcendental

Muito pouco se sabe sobre as etnias que outrora viveram nas sete Ilhas Canárias, sobretudo suas respectivas culturas e línguas, antes da sua posse pelos espanhóis no século 14. Restou pouco mais do que uma coleção de nomes próprios de guerreiros escravizados, alguns relatos sobre feitos heróicos e sobre linhagens de nobreza, e alguns milhares de crânios guanches expostos nas vitrines do antigo museu de antropologia que, hoje, mais do que nunca, serve para demonstrar a mão pesada do conquistador. Entretanto, o mais improvável aconteceu, superando todas as adversidades; uma única língua, cuja transmissão é estritamente oral, não só resistiu ao invasor mas também se adaptou a ele: o silbo gomero – linguagem assobiada, hoje empregada apenas pelos habitantes de La Gomera e considerada patrimônio oral e imaterial da humanidade.

Um homem nascido na ilha de Tenerife, obviamente de origem espanhola, cruzou o oceano com os jesuítas portugueses para tornar-se sábio e santo no Brasil: José de Anchieta. Ao contrário de seus compatriotas, o santo aprendeu a respeitar os indígenas e, aplicando os fundamentos da enculturação, terminou por escrever a Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil. Sua intenção sempre foi a de catequizar os tupis, mas terminou por fazer muito mais, já que os defendeu dos abusos dos colonizadores portugueses. Durante os meses em que foi mantido refém entre os Tamoios, o santo concebeu o Poema à Virgem mas não pode transcrevê-lo imediatamente por falta de meios. Podia então ser visto na praia escrevendo e reescrevendo na areia os mais de 5.000 versos do poema. Consta, também, que teria levitado entre os indígenas que, apavorados, pensaram que o santo era um feiticeiro. Teria sido um transe? O tupi antigo foi salvo por ações singulares de indivíduos como Anchieta e sua derivação nheengatu – língua boa – ainda hoje falada como uma espécie de língua geral amazônica. E se naquele transe o santo tivesse ouvido o silbo gomero de sua terra natal e tratasse de ensiná-lo aos tupis?

Rosângela Rennó, 2016.
*De autoria da artista, o texto compõe a obra Método básico de assovio gomero-tupi.

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Rosângela Rennó
Nascida em Minas Gerais, a artista visual é Doutora em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP, 1997), com formação em arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 1986) e em artes plásticas pela Escola Guignard (1987). Uma das primeiras artistas brasileiras a deslocar a fotografia do campo bidimensional para o território da instalação artística, Rennó aborda questões acerca da natureza da imagem, seu valor simbólico e seu processo de despersonalização. Em suas obras, apropria-se e traz visibilidade a um repertório anônimo de fotografias e negativos encontrados em feiras de antiguidade, álbuns de família, jornais e arquivos. Participou das Bienais de Johannesburgo (1997), São Paulo (1994, 1998 e 2010), Berlim (2001), Istambul (2011) e Veneza (1993 e 2003); além de mostras como América Latina 1960–2013, na Fondation Cartier (Paris, 2014); Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil, no Wexner Center for the Arts (Ohio, 2014), Chosen Memories, Contemporary Latin American Art, no Museum of Modern Art New York (EUA, 2023). Entre suas últimas mostras individuais constam Sur les ruines de la Photographie, em Les Recontres de la Photographie (Arles, 2023) e Pequena Ecologia da Imagem, na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2021).
Na Videobrasil, participou do 13º Festival (2001) – sendo premiada pela obra Vera Cruz (2000) –, foi artista convidada a criar o troféu do 16º Festival (2007) e, atualmente, integra o Conselho Consultivo da associação cultural.


FICHA TÉCNICA

Rosângela Rennó, Método básico de assovio gomero-tupi, 2016
da série Turista transcendental, 2009-2024
Assovio gomero captado em Las Palmas, Gran Canário: Oliver Escuela Hernandez
Captura de som e assistência geral: Auguste Trichet
Edição de vídeo e áudio: Isabel Escobar
Revisão e locução em Tupi antigo: Eduardo de Almeida Navarro

Esta edição do Videobrasil Online apresenta Método básico de assovio gomero-tupi, da Rosângela Rennó. Em entrevista inédita, a artista compartilha seu processo de criação.

Composta por vídeo e texto, a obra propõe associações entre linguagem assoviada das Ilhas Canárias – o silbo gomero – e a figura de José de Anchieta, importante personagem da história da colonização brasileira, nascido nas Ilhas Canárias e responsável pela primeira gramática do tupi para o português.

Método básico de assovio gomero-tupi (2016) integra a série Turista transcendental, desenvolvida por Rennó há 16 anos. Nela, a artista explora um alter ego que busca formas alternativas de vivenciar e documentar viagens. A série vai além do registro visual, criando conexões históricas e culturais que constroem “pontes multidirecionais” entre diferentes povos e lugares.

Em nova parceria com o MAC USP, Videobrasil levou videoarte às ruas 

Na noite de 11 de setembro de 2025, a cidade de São Paulo recebeu uma experiência artística a céu aberto. Fruto de uma parceria entre a Associação Cultural Videobrasil (VB) e o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), a edição de estreia do Videobrasil Open Air apresentou uma projeção em larga escala de Método básico de assovio gomero-tupi, da série Turista transcendental de Rosângela Rennó.
A exibição em looping na empena do MAC USP aconteceu de 19h às 22h, marcando a estreia da nova exposição do Videobrasil Online, e convidando o público que circulava pela região a um encontro entre arte e cidade.

O Videobrasil Open Air nasce da colaboração entre duas instituições fundamentais para a trajetória da videoarte no Brasil. Na década de 1970, sob a direção de Walter Zanini, o MAC USP foi pioneiro ao incentivar e institucionalizar essa linguagem, abrindo espaço para artistas como José Roberto Aguilar, Júlio Plaza e Regina Silveira, e promovendo exposições que ajudaram a consolidar o suporte no país. Já nos anos 1980, surge a Videobrasil, inicialmente como um festival dedicado à experimentação do vídeo como linguagem. Ao longo de mais de quatro décadas, a iniciativa se transformou em uma das principais plataformas de preservação, reflexão e difusão da videoarte do Sul Global, reunindo hoje o maior acervo do tipo na América Latina.